Este é o relato do nosso colunista Rafael Guerra, que lançou o documentário “Quarentena em um hostel argentino”, mostrando a rotina de um hostel onde se hospedou, na Argentina. Ao final desse texto, você pode assistir ao documentário completo, que está disponível no YouTube.
Em fevereiro deste ano, voltei para Buenos Aires destinado a conseguir arrumar um emprego. Fiz meu currículo em espanhol, caprichei no meu portfólio e comecei a procurar vagas que envolviam motion designer ou edição de vídeos.
Mas, nem a incerteza de arrumar trabalho me dava mais medo do que não ter um lugar bom para morar. Viver em Buenos Aires é caro e, eu estava buscando um lugar que tivesse um preço justo pelo que oferecia. Depois de muitas buscas, me frustrei.
Então, eu que sempre fui de me planejar bem, acabei tomando uma decisão bem impulsiva. Me inscrevi na plataforma Worldpackers (plataforma onde você troca hospedagem por trabalho) e enviei minha candidatura para 6 vagas de voluntariado de norte a sul da Argentina. A ideia era ir passar um mês no primeiro lugar que me aceitasse.
Foi assim que, 5 dias depois, estava desembarcando em Villa de Merlo, cidade que só conhecia por fotos. O voluntariado funcionava assim: eu trabalhava cinco dias na semana, 5 horas por dia e tinha dois dias livres para aproveitar as dependências do hostel ou sair desbravar a cidade rodeada por montanhas e riachos.
Consegui fazer só duas saídas destas, porque depois, o caos do coronavírus chegou na Argentina também e, temerosos com a instabilidade do momento, a maioria dos hóspedes e voluntários do hostel foi embora.
Eu segui no hostel por três motivos: 1. eu estava em um lugar que me sentia bem. 2. eu imaginava que as coisas em breve voltariam a normalidade. 3. só regressaria para o Brasil quando me sentisse seguro para fazer isso.
Depois de muito ver nas redes sociais gente reclamando do isolamento obrigatório e de alguns amigos se queixarem de estarem enfurnados em seus apartamentos ou casas sem pátio, comecei a dar-me conta que eu estava em uma situação muito privilegiada.
Eu estava em um lugar onde eu podia sair, tomar um sol, deitar numa rede, brincar com os cachorros na grama, ficar embaixo da sombra das árvores, ouvir o canto dos pássaros. Mas, mais do que isso, eu estava convivendo com pessoas com uma mentalidade muito diferente da minha e que tinham muito a ensinar. Foi nesse momento que eu senti a necessidade de documentar tudo aquilo.
Sou envolvido com audiovisual desde a faculdade. Já fiz de tudo um pouco: desde trabalhar como assistente de produção em um longa-metragem, até fazer o roteiro, a produção e a continuidade de curtas-metragens e edição de vídeos jornalísticos.
Mas em Villa de Merlo, foi a primeira vez que assumi uma responsabilidade de uma produção inteira sozinho. A ideia era para ser algo bem simples, com o celular mesmo. Mas, à medida em que eu ia colhendo os depoimentos dos meus companheiros de hostel, comecei a dar-me por conta da riqueza do material.
E, desta vez, não era porque tinha uma fotografia bonita ou uma direção de arte impecável, mas porque as histórias e ensinamentos daquelas pessoas poderiam servir de inspiração para o momento crítico que estávamos vivendo.
Foi um mês de gravações e mais um mês de edições. E, com toda a certeza, a edição foi a parte mais difícil.
Transformar três horas de depoimentos e imagens em 18 minutos não foi uma tarefa fácil. Nunca imaginei que conseguiríamos explorar tantos assuntos em tão pouco tempo.
Estar no hostel com aquelas pessoas e toda aquela energia, me fez bem e me ensinou tanta coisa, que o documentário é uma forma não só de retribuir tudo, mas também poder levar um pouco de positividade para quem for assistir.
Quando isso tudo passar, podemos ser pessoas melhores do que éramos antes da pandemia. Mas o mais importante é que podemos começar agora.
Quarentena em um hostel argentino
(Cuarentena en un hostel argentino)
Direção: Rafael Sanches Guerra
Idioma: Espanhol
Legendas: português (tem que ativar as legendas nas configurações no YouTube)
Duração: 18 min 21 segundos
Assista ao documentário aqui:
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