Lembro que, ao final do primeiro semestre da faculdade, a professora de História da Arte do curso de Publicidade, Salete Mafalda, presenteou os alunos que compareceram a todas as aulas da sua disciplina, com réplicas de obras de grandes artistas. Eu ganhei uma pintura super colorida e bizarra de Salvador Dalí, impressa em uma folha A3. Foi exatamente nesse momento que fui buscar saber mais sobre o trabalho desse criativo artista espanhol e, desde então, me tornei mais um dos seus milhares de admiradores mundo afora. O que não imaginava era que, 10 anos após concluir a graduação, eu iria poder apreciar suas obras originais de pertinho. Isso aconteceu no dia 10 de agosto, durante uma exposição em Buenos Aires, na Argentina.
“O Surrealismo de Dalí” reúne mais de 100 produções do artista que vão da década de 1950 a 1980. As obras compreendem técnicas e materiais bem diferentes como esculturas, gravuras, serigrafias e litografias originais pertencentes a uma coleção particular que foram cedidas por Enrique Sabater, ex-secretário e administrador de Dalí.
Por uma feliz coincidência, cheguei na hora que iniciava uma visita guiada pelo espaço. Cerca de 20 pessoas começaram a acompanhar uma jovem moça que nos contava um lado de Dalí pouco conhecido pelo grande público. Falou sobre suas inspirações, as técnicas utilizadas e sua vida pessoal. Depois de mais de 1 hora percorrendo a extensa sala, já éramos mais de 50 espectadores. O trabalho de Salvador Dalí é assim: desperta primeiro a curiosidade e, depois, o fascínio e a admiração.
Ao final da visita guiada, fomos desafiados a analisar as obras de Dalí, apreciar os detalhes e tentar compreender o significado do uso dos elementos em suas obras.
Em “Quixote em redemoinhos”, há uma lupa, que permite vermos pequenos soldados desde a época da guerra civil espanhola.
Já em “Gala olhando para o mar”, o Lincoln aparece apenas se o visitante se mover a 10 metros de distância.
Aqui, a obra de perto:
Aqui, com a distância:
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No centro do salão, nos deparamos com uma belíssima escultura, em bronze, de Alice no País das Maravilhas. A inocente garota que escapa da confusão do mundo real e vai parar atrás do espelho, um lugar cheio de mistérios, cores e loucuras.
Um dos ícones de Salvador Dalí mais famosos são os relógios derretidos. Eles aparecem em diversas obras da mostra. Uma das mais impressionantes é a escultura do relógio que “pinga” em um galho, demostrando que o tempo não é rígido, mas flexível.
A exposição, que começou em maio e tem previsão de ir até meados de setembro, está no Centro Cultural Borges de Viamonte, 525 (Galerías Pacífico, Buenos Aires, Argentina). A entrada geral é de 250 pesos (estudantes e idosos, 200 pesos) e pode ser conferida de segunda a sábado das 10h às 21h e domingo, das 12h às 21h.
SALVADOR DALÍ E O CINEMA
Dalí também participou da produção de alguns filmes. O mais conhecido é “Um cão andaluz” (1929), obra francesa de 21 minutos co-escrito com Luis Buñuel. O curta metragem é sempre lembrado pela cena da abertura de um globo ocular com uma navalha.
Escreveu vários roteiros, mais poucos foram concebidos. Um deles foi para o sonho na sequência de “Spellbound” (1945), de Alfred Hitchcock, que lembra muito alguns temas da psicanálise.
Ele também trabalhou em “Destino”, uma produção com Walt Disney. O curta de animação foi primeiramente idealizado em 1945, contudo, o estúdio do Mikey sofreu uma crise e o projeto ficou adormecido por 58 anos. Finalmente, em 2003, a obra foi concluída com a ajuda de Gala Dalí, esposa de Dalí e com o desenhista original da época, John Hench.
O último filme que Dalí colaborou foi “Impressões de Alta Mongólia” (1975). A trama conta a história de uma expedição em busca de gigantes cogumelos alucinogêneos.
De acordo com críticos e do próprio Dalí, para a inspiração de suas pinturas não fazia uso de drogas, mas sim do Onirismo, experiência de privação do sono. O artista catalão morreu em janeiro de 1989, aos 84 anos.
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