A Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), por meio da Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ), em parceria com o Consulado da Irlanda, apresentará o evento “Dubling: Uma conversa no gerúndio”, dia 17 de março, às 16h, na sala Sérgio Napp 1 – 2º andar da CCMQ. A agenda integra uma série de eventos que serão realizados no Estado, comemorativos ao Dia de São Patrício (St. Patrick’s Day) – celebrado em 17/03 – e à primeira publicação de “Ulysses”.
A programação estabelece aproximações entre a literatura e as artes visuais, promovendo o encontro entre Donaldo Schüler, um dos tradutores de “Ulysses” para a língua portuguesa, e a artista visual Elida Tessler, autora de uma instalação conceitualmente gerada a partir desta obra de James Joyce (1882-1941). Intitulado “Dubling”, o trabalho surge, nas palavras da artista, pela intenção de transformar “um nome próprio [Dublin] em verbo no gerúndio [Dubling]”, reunindo, desde sua concepção, um movimento de contração da língua inglesa e da língua portuguesa.
Com entrada franca, “Dubling: Uma conversa no gerúndio” debate a atualidade do livro de Joyce, que desde sua primeira publicação, em 1922, impactou a crítica especializada e o público leitor, e tem suscitado ao longo destes cem anos estudos e análises em diversas áreas do conhecimento. Como indica o nome do encontro, a proposta é criar uma conversa contínua, como acontecimento em fluxo, aberta aos questionamentos do público.
“Ulysses”
Publicada pela primeira vez no dia 02 de fevereiro de 1922, pela livraria Shakespeare and Company, a obra retrata a epopeia de um homem comum, Leopold Bloom, desde sua saída de casa pela manhã, passando pelo cumprimento de tarefas diárias e o retorno ao lar, à noite. Com um paralelo com a epopeia grega “Odisseia”, de Homero, a obra se passa na cidade de Dublin e por trás da aparente simplicidade da espinha dorsal da história, com “Ulysses”, James Joyce provocou abalos na forma de se narrar uma história, ao incorporar experimentalismos estilísticos e de linguagem. Joyce é considerado um dos maiores escritores do século XX.
“Dubling” (Elida Tessler, 2010)
As relações entre palavra e imagem têm movido a produção poética da artista contemporânea Elida Tessler (Porto Alegre, 1961). Em “Dubling”, a leitura do romance “Ulysses” sugeriu à artista o tensionamento e encaixe entre diferentes linguagens: a verbal e a visual.
A instalação contém 4.311 gerúndios retirados da edição em inglês de “Ulysses”, impressos (em mesmo número) em cartões-postais e em rolhas inseridas em bocais de garrafas. O gerúndio foi uma escolha proposital da autora, visto que essa forma verbal denota um aspecto duradouro de continuidade e fluxo. Os recipientes de vidro remetem às garrafas atiradas ao fundo do mar, com mensagens em seu interior, que, do mesmo modo como os cartões-postais, em seu gesto de envio, têm “a promessa de um encontro, sem a garantia de chegada” — explica Elida. Para a artista, o encontro da rolha com o bocal da garrafa representa o que ela chama de um “encaixe perfeito” entre uma produção artística e a reflexão crítica por ela suscitada.
Artista visual e pesquisadora, Elida é graduada em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com doutorado em História da Arte (Université Paris 1 -Panthéon-Sorbonne). Professora aposentada da UFRGS, fundou e coordenou, junto com Jailton Moreira, o Torreão – espaço de arte contemporânea em Porto Alegre.
Entre suas exposições individuais mais recentes estão “Gramática intuitiva”, na Fundação Iberê Camargo (2015); “365”, na Galeria Bolsa de Arte de Porto Alegre; e “Recortar Copiar Colar”, na Bolsa de Arte de São Paulo (2017). Em 2021, participou de “Língua solta”, exposição coletiva de reabertura do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.
Donaldo Schüler
Natural de Videira (SC) é doutor em Letras e Livre-Docente pela UFRGS e pela PUCRS. Professor titular aposentado em Língua e Literatura grega da UFRGS e professor do curso de Pós-graduação em Filosofia da PUCRS.
Poeta, ensaísta e tradutor, Schüler é considerado um dos grandes especialistas brasileiros na obra de James Joyce. Assinou, também, a tradução integral da obra Finnegans Wake, de Joyce, texto que conta com raras traduções integrais em outros idiomas, pela qual recebeu o prêmio Jabuti em 2004. Em 2017, publica o livro “Joyce era louco?”, dedicado à obra do autor irlandês.
Concebido inteiramente em contexto pandêmico, recentemente, publicou “Narrar Narciso” (Editora Duaz, 2021), livro que reatualiza o seu anterior “Narciso Errante”(1994) e mostra as suas preocupações em aproximar a mitologia grega aos contextos da vida contemporânea, principalmente no Brasil.