Eva e Margret são duas meninas judias que enxergam seus destinos separados em meio à Alemanha nazista de Hitler. Há algo de ficção nesta trama, mas a história que liga a escritora à personagem Eva é bem real. Letícia Sopher Pereyron fez questão de dedicar um capítulo do seu primeiro livro à sua avó, Eva Sopher. Em ‘Mulheres e Suas Bagagens: Fascinantes histórias de mulheres com vidas curiosamente interessantes’, a santa-mariense homenageia a avó, contando a história da garotinha que aos 13 anos precisou fugir com a família para refazer uma história no Brasil.
Essa é uma das 24 histórias que estão no livro, que será lançado no dia 22 em Porto Alegre. Elas foram colhidas ao longo de quatro anos, entre 2008 e 2012, quando Letícia morava nos Estados Unidos, e contam sagas e dilemas de mulheres que conheceu ao longo do caminho que percorreu. De acordo com ela, nem todas as histórias são reais: algumas aconteceram e tiveram no enredo uma pitada de ficção, e outras foram criadas com inspiração em fatos reais. Todas elas são contadas pela perspectiva de mulheres, reais ou fictícias, e surgiram também da habilidade de Letícia de se comunicar e de observar histórias nas entrelinhas do cotidiano.
– Acho que mulheres têm muito mais a contar do que homens. As mulheres dividem mais, elas têm muitos dramas e muitas histórias pra contar e dividir. Ouvi muitas histórias de mulheres que conheci e tudo que elas trazem com elas.
Letícia fez do mundo a sua casa. Nascida em Santa Maria, morou nos Estados Unidos, na Espanha, na Inglaterra e hoje vive em Sidney, na Austrália. Sua própria bagagem a fez cruzar com vidas de mulheres que a inspiraram para escrever o livro.
Entre os relatos, no limiar da realidade e da ficção, estão a história de uma mulher que perdeu o marido vítima de suicídio e precisou superar a perda ao lado dos quatro filhos, e a de uma jovem que perdeu os movimentos depois de cair em uma piscina em Las Vegas.
Neta de Eva, é claro que Letícia não poderia deixar de fora o relato da vida de sua avó.
– A história que conto da minha avó é toda real, já a da sua amiga que acompanha na trama não . É claro que eu queria ter escrito muito mais sobre ela, mas já existem muitos livros que falam sobre sua vida. A diferença é que agora a história dela não está escrita só na perspectiva de jornalistas e repórteres, tem alguém da família que conta. Foi especial por isso e me sinto realizada, porque fiz minha parte. Ela foi uma grande mulher, e eu dedico o livro a ela”, conta Letícia.
Filha de Ruth Peréyron, diretora do Theatro Treze de Maio, as duas passaram por um momento emocionante há algumas semanas, quando estiveram no memorial do Theatro São Pedro, que conta com uma galeria dedicada à Eva Sopher. É lá que será o lançamento oficial do livro, lugar que renasceu com as mãos de Eva, que cuidava com maestria e fazia daquele teatro sua casa.
– Eu e minha mãe fizemos juntas um ensaio da leitura do capítulo dedicado à minha avó, lá no memorial, e foi muito emocionante. Porque naquele momento parecia que estávamos nós três ali: eu, minha mãe e minha avó. Nós éramos muito próximas. Todo ano tirávamos uma semana para viajarmos juntas, só nós. Aquele ensaio foi muito especial, e o lançamento no Theatro São Pedro vai ser muito especial. Me sinto como se estivesse retribuindo algo a ela. Eu tenho certeza que ela vai estar por perto.
O livro “Mulheres e suas bagagens” também vai ser lançado em Santa Maria. A data prevista é 02 de maio, no Theatro Treze de Maio, às 11h. Letícia não poderá estar na cidade na data e será representada pela mãe , Ruth.
-Poder lançar esse livro em Santa Maria vai ser fundamental , é a minha cidade natal, com pessoas que convivi minha vida toda. Será muito especial.
O livro tem o selo da Editora Artêra e pode ser adquirido no site da Amazon clicando na foto da capa:
Letícia Sopher é doutora em Letras pela UFRGS, mestre em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do RS – PUC, e M.A in TESOL pela La Salle University, na Filadélfia. Lecionou Português e perspectivas econômicas na Universidade da Pensilvânia e Escrita acadêmica na ESPM Sul. É natural de Santa Maria, onde se graduou em Letras na UFSM.
Eva Sopher nasceu em Frankfurt, em 1923. Com a ascensão do nazismo, foi obrigada a emigrar para o Brasil aos 13 anos. Depois de passar pelo Rio de Janeiro, chegou a Porto Alegre em 1960. Na capital gaúcha, comandou a restauração do Theatro São Pedro que, em ruínas, foi salvo por ela da demolição
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