Uma fusão bonita entre dança, música e poesia. Mais do que isso, uma fusão maior, entre as culturas do sapateado, do flamenco, do malambo argentino, das milongas do Sul. É essa a essência do espetáculo InFusión, que leva aos palcos a versatilidade da atriz Letícia Spiller – agora investindo forte e lindamente como cantora – junto ao belo trabalho do namorado violonista Pablo Vares, com quem divide as cenas. Soma-se aí o talento do gaúcho cruz-altense João Silveira, coreógrafo, dançarino e ninguém menos que o idealizador do projeto, que estreou no início do mês aqui no Sul.
No show, Letícia Spiller ganha o palco cantando, recitando poemas e rodopiando em danças. Os violões ficam por conta do namorado, músico uruguaio, em um repertório que traz ritmos mesclados entre as culturas espanhola, uruguaia e brasileira. Tudo isso misturado ao sapateado de João, que resolveu propor o projeto ao casal depois de assistir a um show de Pablo no Rio de Janeiro, onde Letícia fez uma participação cantando.
– O espetáculo é inspirado na transdisciplinaridade, que é quando as disciplinas vão se fundindo e se transformam. É inspirado nessa fusão de culturas: quando misturamos o flamenco com os ritmos brasileiros e com os do Cone Sul da América, como ritmos argentinos, da América Latina, como também do México – explica João Silveira, que dirige o espetáculo e também é pesquisador da Universidade de Harvard.
Durante o espetáculo essa transdisciplinaridade é bem visível entre os artistas:
– Além de fazermos aquilo que nos é natural – para mim sapatear, para Pablo tocar violão e para Letícia interpretar -, a gente se desafia a fazer coisas nas quais não somos conhecidos por fazer. Então eu toco instrumento, Letícia se dedica a cantar e, quem assiste ao show, vê Pablo fazendo outras coisas além de tocar. É uma reflexão que trazemos sobre a multiplicidade que somos nos dias de hoje. Não há barreiras entre as disciplinas – define João.
Pirisca no palco
O espetáculo estreou nos dias 2 e 3 de março em Passo Fundo e em Cruz Alta, cidade natal de João. Nas duas apresentações de estreia, outro talento bem próximo da gente também dividiu o palco ao com os artistas: o músico Pirisca Grecco. Pirisca fez participação cantando três músicas.
– Quando pensei no roteiro do espetáculo, tive a ideia de que, sempre que possível, trazer a participação de um músico da região onde formos apresentar. Como fazemos no espetáculo uma fusão de ritmos, é importante que alguém daquela região traga pra gente a sua visão dessa fusão. O Pirisca é alguém com quem, há pelo menos 10 anos, tento fazer um espetáculo junto. Quando decidimos estrear no Sul não tive dúvidas. Ele deu uma imensa contribuição, fez uma brilhante apresentação e ainda trouxe contribuições conceituais que foram bem importantes na estreia do espetáculo – comenta João.
Entre um mate e outro, Pirisca contou como foi compartilhar os momentos de Infusión ao lado de Letícia, Pablo e João, amigo de longa data.
– O Pablo toca guitarra flamenca, o João sapateia, toca o bombo leguero, cajón… Letícia canta João Bosco, Vitor Ramil, músicas do flamenco… é surpreendente a capacidade artística dela. O afinco e a dedicação, a disciplina, a força para cantar. Pra mim participar foi um baita orgulho – conta Pirisca.
Dentro do repertório, o músico tocou Muchas Gracias, Canção Cosmopolita e Gaudêncio Sete Luas. Dos vários momentos do show, Pirisca contou que foi salvo por Spiller em trapalhadas como ter deixado seu violão cair logo no início de sua participação no primeiro espetáculo. E também que salvou a atriz quando adiantou sua entrada ao palco para ajudá-la a cantar Semeadura, quando ela esqueceu um trecho da letra.
– Ela é uma grande artista, cheia de energia… o show é leve, é para cima. Todos à vontade no palco, nos sentimos como se estivéssemos na sala de casa. Além disso fazer um projeto com o João foi um prazer, há muitos anos mantínhamos acesa a chama de trabalharmos juntos, e agora conseguimos – ressalta Pirisca.
O espetáculo está em fase de estreia e deve rodar por outras cidades ainda no primeiro semestre.
– Santa Maria está no nosso mapa. Morei na cidade, faz muitos anos que não volto e tenho saudades. Seria sensacional levarmos o espetáculo aí – diz o diretor.
Conheça mais sobre o espetáculo no vídeo:
Créditos do vídeo: Giovane Canan
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